Trabalhar/Alfabetizar Meus Alunos no Jardim, e Aí?

por Eliton Rufino

SOU OBRIGADO A TRABALHAR/ALFABETIZAR MEUS ALUNOS NO JARDIM, E AÍ?

Tenho visto, nos grupos que participo, um anseio muito grande no que tange a obrigatoriedade de sistemas de ensino, principalmente de escolas particulares, acerca de tarefas, trabalhos relacionados à alfabetização com crianças de 3, 3/5, 4 anos.

Assim, penso ser importante refletir sobre o tema a partir do meu ponto de vista e calcando-me pela literatura que venho me debruçando.

Há, por parte da nossa sociedade – que é feita pela grafia – uma necessidade de que todas as coisas estejam validadas, apenas, no papel, em que tudo deve ser ”memorizado” por meio da escrita: Isso é lamentável, pois o corpo fala de muitas formas, de muitas maneiras: pelo ouvido, pelo nariz, pela sinestesia, pelo corpo todo!

Sabemos que precisamos da escrita, da língua escrita, dos documentos, mas incutir isso, de maneira arbitrária e desmotivante, em crianças que estão em pleno desenvolvimento psicomotor, parece um tanto quanto questionável!

Claro que podemos e, INCLUSIVE, devemos trabalhar as letras, histórias, contos, o alfabeto, as vogais e as palavras, pois são signos, símbolos, construção de significados, não é? Isso é o que bem representa o conceito de cultura.

Porém, há brincadeiras, jogos, músicas, elementos, principalmente corporais, que podem desenvolver tais ”habilidades” sem ser da maneira: ”faça isso para isso, faça assim, para usar assim ” – independentemente se for chato, pouco significativo ou não.

Lembremos: temos autores que estudaram anos e anos, e que nos mostram que a alfabetização precoce e forçosamente trabalhada pode criar traumas no aprendizado (Lima, 2001).

Ah, mas todos precisamos lidar com traumas, ser resistentes, não? A questão não é essa, isso vai se desenrolar naturalmente na vida. Mas, quem estuda a infância sabe: Potencializar traumas auxiliará, principalmente, em experiência negativas na fase futura, isso é bom?

Por isso, mais do que ser importante na educação infantil encaminhando ”bons” alunos para o ensino fundamental, precisamos pensar o que é bom para as crianças tão pequenas, que não seja aquilo que apenas nós pensamos ser bom pra elas, mas, quem sabe, lhes perguntar, algumas vezes, o que elas acham ser bom! Aí, com certeza, a alfabetização vai acontecer naturalmente e, com bons planejamentos reflexivos, podemos ser boas lembranças na cabeça dos pequenos que um dia serão ”grandes”.

Referências

LIMA, N.C. Análise Fonológica e Compreensão da Escrita Alfabética: um estudo com crianças da escola pública. Anais do Simpósio Latino-Americano de Psicologia do Desenvolvimento. Recife, 51-54, 2001.

SOARES (1989) Alfabetização: A (des)aprendizagem das funções da escrita. Educação em Revista, 8: 16-23, 1989.

Um grande abraço.

Atenciosamente, Eliton Rufino

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